Tristano

Cases que Orgulham CWB

20/12/18 em Artigos

Por mais globalizado que o mundo esteja, não dá pra negar que a gente sente um calorzinho no coração quando vê projetos da nossa cidade ganhando o país e até o mundo. Especialmente, quando os trabalhos em questão nasceram com objetivos nobres. 

Conversamos com os responsáveis por alguns dos projetos mais inspiradores que tiveram Curitiba como berço: a moda autoral e sustentável da Reptilia e da Rocio Canvas, com Heloisa Strobel e Diego Malicheski, a Karina Galon, com a Puta Peita e suas camisetas ativistas, e também com a Fernanda Koppe, da banda que transforma debates necessários em música, a Mulamba. 

 

Conexão Além do Consumo

 

As pessoas se atraem ao que faz sentido pra elas e dão cada vez mais importância aos valores compartilhados com as marcas das quais consomem. Para os nossos entrevistados, ser uma marca que defende certos princípios nunca foi a cereja do bolo e, sim, parte essencial. 

A designer e fundadora da Reptilia, Heloísa (podemos chamar de Helô né?)  se considera da mesma escola do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, com quem trabalhou durante 10 anos: “Se você corta um zero do seu orçamento você tem sustentabilidade. Se você corta dois zeros do seu orçamento, você tem criatividade”. Até pela forma como começou, a Reptilia tem a sustentabilidade como modus operandi. Com budgets sempre baixos, nunca foi uma opção fazer “o uso excessivo de recursos, a produção massiva e a queima (literal) de peças que costumam acontecer em grandes marcas”.

Sobre a criação e concepção das peças assinadas pela marca Rocio Canvas, Diego destaca a importância de gerar proximidade com as pessoas para que elas tomem consciência do processo envolvido em tudo que consomem: “Por mais que exista uma máquina como instrumento, é a mão de uma pessoa, com uma cabeça pensante, que opera e realiza a criação”. Helô acrescenta que quem fabrica e quem consome são de mesma importância na cadeia de produção, afinal, justamente por este intercâmbio: “nós também aprendemos muito com nosso público, toda equipe tem acesso ao feedback, o que possibilita melhorias em cada coleção”.

Para Karina, o laço entre a Peita, as pessoas e o movimento feminista trouxe legitimidade pra cada palavra lida numa camiseta de sua marca: “Quando as pessoas vestem a Peita, elas ressignificam a mensagem que estão vestindo no seu próprio contexto de luta e isso dá uma força genuína pra camiseta, pra Peita e pro movimento. A identificação com a mensagem e a representatividade que ela tem pras essas pessoas se tornam ferramentas de enfrentamento urbano. É um gatilho pra um debate necessário, porque o machismo afeta a sociedade como um todo”.

 

Online x Offline

 

Mesmo quando o assunto é comunicar, ser visto pra ser lembrado é pouco. No caso destes cases curitibanos incríveis, o número de seguidores importa menos do que o número do que as conexões legítimas com as pessoas. É o que Helô acredita ser uma questão de criar contextos, histórias e interações tanto no meio online quanto no offline. 

Segundo Fer Koppe, violoncelista da banda Mulamba, não é uma questão de estratégia pra conquistar o reconhecimento  e, sim, de atenção aos detalhes, carinho e cuidado. “Quando o ‘produto’ envolve cada uma das integrantes da banca, como pessoas físicas, a estratégia para se atingir algo talvez seja um pouco mais delicada. Amamos o que fazemos, talvez essa seja a estratégia”. – completa.

 

Talento e propósito no quintal de casa

 

Com exemplos como estes aqui, no quintal de casa, fica fácil entender que a criatividade pra novas abordagens de impacto positivo tem cada vez mais força e que o consumo passou a ser ferramenta de transformação. 

Segundo a Fer, todas as meninas da Mulamba se desconstroem e também transformam a si mesmas através da criação de suas músicas: “é tão bom saber que nosso som também pode virar chavinhas na cabeça das outras pessoas também” conta, orgulhosa. 

Seguindo neste raciocínio, Karina fala o que precisa ser dito:”Queremos que todos entendam que são parte da revolução e que a revolução começa dentro da gente”. 

Mais do que produzir uma roupa de forma consciente, uma mensagem poderosa na camisetas ou compor uma música que arrepia, cada criador é capaz de entender o crescimento de seu trabalho com um olhar que não se prende aos limites da cidade, ao orçamento enxuto ou à métricas de vaidade.